Confederação do Equador

1824 - CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR




Esse movimento separatista ocorreu no Nordeste no período de 2 de junho a 28 de novembro de 1824, e foi causado pelo descontentamento que a dissolução da Assembléia Constituinte de 1823, e a outorga da Constituição de 1824, feita por D. Pedro I, provocou em Pernambuco.



As Câmaras Municipais de Olinda e de Recife já haviam negado aprovação àqueles atos do imperador alegando que assim agiam movidas pela (...) "desconfiança não pequena em que se acham todos os habitantes desta província (...), receando (...) o restabelecimento do antigo e sempre detestável despotismo, a que estão dispostos a resistir corajosamente". Este descontentamento também já atingia outras províncias no Norte e no Nordeste do Brasil, onde se avolumavam os comentários de que o Rio de Janeiro havia se transformado numa "nova Lisboa" dominada por portugueses que oprimiam e prejudicavam os brasileiros.



A junta governativa desse estado era presidida por Manuel de Carvalho Pais de Andrade, que renunciando ao mandato que lhe fora conferido pelo Império, criou um novo governo e convidou as províncias vizinhas a formarem com ele uma república independente, denominada Confederação do Equador. A rebelião tinha como objetivo não só a expulsão de D. Pedro, mas principalmente a formação de uma república federativa semelhante à norte-americana, e adotara provisoriamente a Constituição da Colômbia. Na bandeira idealizada por Pais de Andrade, figuravam ramos de cana e algodão, além da divisa Religião, Independência, União e Liberdade.



A adesão de algumas camadas da população ao movimento permitiu a rápida formação de tropas para defender a Confederação. Elas eram compostas por mulatos, negros libertos e militares de baixa patente que desde 1821, quando do Movimento Constitucionalista, se encontravam organizados em brigadas acionadas ocasionalmente na época, sob o controle das elites locais. Entretanto, as demonstrações de radicalismo e insubordinação que preponderavam no dia-a-dia desses agrupamentos, expressando muito mais a hostilidade contra os proprietários e a população branca, que propriamente um sentimento nativista, já haviam ocasionado protestos raciais em 1823, acompanhados do que ficou conhecido como “mata-marinheiro”, que nada mais eram que ataques diretos aos portugueses. Isso fez com que o movimento se dividisse em diversas tendências, provocando o distanciamento delas em relação à massa popular e contribuindo para a sua derrota.



Os rebeldes foram combatidos em terra por tropas mercenárias contratadas pelo poder central e lideradas pelo então coronel Luiz Alves de Lima e Silva, futuro Duque de Caxias, enquanto uma esquadra comandada pelo almirante inglês lorde Cochrane, a serviço do Império, bloqueava o porto de Recife. Com a tomada da cidade pelas for-ças imperiais, Pais de Andrade percebeu a iminência da derrota e por isso procurou refúgio na fragata inglesa Tweed, enquanto os elementos mais radicais do movimento resistiam em Olinda, liderados por Frei Joaquim do Amor Divino Caneca. Dali, os que integravam o movimento rebelde seguiram em fuga para o interior, rumo ao Ceará, que havia aderido aos revoltosos, onde um de seus chefes, Tristão de Araripe, foi morto depois de rejeitar a anistia. Com isso, o restante dos seus homens, após serem batidos em Couro de Anta, no Agreste e no Engenho do Juiz, tiveram que se render.



Os cabeças do movimento, João Metrovich, marinheiro maltês que chefiara as forças navais rebeldes, além de Joaquim da Silva Loureiro, o padre Gonçalo Inácio de Loiola Albuquerque e Melo, além de frei Caneca, foram condenados à morte. Com relação a este último, condenado à forca, como ninguém se dispusesse a exercer a fun-ção de carrasco, terminou sendo fuzilado no Largo das Cinco Pontas, em Recife, por ordem da comissão militar responsável por sua execução. Quanto ao líder maior, Manuel Carvalho Pais de Andrade, que fugira para a Europa, acabou sendo beneficiado por um decreto de anistia e retornou ao Brasil em 1834, sendo eleito e reconhecido, posteriormente, senador do Império.



Na ilustração, detalhe da execução de frei Caneca, em óleo de Murilo de la Greca. Nenhum carrasco habilitou-se a executá-lo. Nenhum escravo ou presidiário aceitou a tarefa, nem mesmo em troca da liberdade, o que obrigou a comissão militar a deter-minar o seu fuzilamento.







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FERNANDO KITZINGER DANNEMANN

Publicado no Recanto das Letras em 22/05/2007

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